Amor em minúscula
Postado por
Samantha
“Amor em minúscula”, do espanhol Francesc Miralles, é um livro simples e bonito. A premissa aborda, em palavras mais floreadas, o famoso efeito borboleta, que afirma que os atos mais simples têm conseqüências grandes e importantes. Ao contrário do que possa parecer, a obra foge dos clichês, levando o leitor a se tornar íntimo de Samuel de Juan, o personagem-narrador, professor doutor de filologia germânica que não tem amigos, não tem vida social e vive só porque nasceu mesmo.
No primeiro dia do ano novo, Samuel é acordado por um barulho em sua porta. Ao abri-la, dá de cara com um gato miúdo que, após idas e vindas, é denominado Mishima e ganha um dono. Em virtude das peripécias do gato, nosso narrador acaba conhecendo Titus, seu vizinho de cima, com quem jamais trocara uma palavra, reencontra Gabriela, um amor de infância, e cruza com o misterioso e lunático Valdemar, além de se envolver rapidamente com a veterinária de seu felino.
Com uma narrativa intimista, Miralles aproveita-se de seu próprio ofício (ele também é um filólogo germânico) para compor Samuel com uma riqueza extraordinária, pontuando os acontecimentos com divagações sobre Kafka, Bukowsky e até Sidarta Gautama, ilustrando perfeitamente momentos da vida do personagem.
É impressionante, também, a sensibilidade com a qual Samuel, ou Miralles, é capaz de descrever as pessoas que encontra em seu caminho. Em certo momento, enquanto sofria por uma paixão, ele depara-se com uma senhora e diz: "Na mesa da frente, uma velha embriagada me observava com expressão maternal fumando um cigarro de tabaco preto. Embora tossisse entre uma tragada e outra, percebi em seus olhos a compaixão de quem queimou todas as suas paixões e está finalmente livre".
A paixão é, realmente, um sentimento maravilhoso e desesperador. E, definitivamente, não caminha junto à liberdade. Não é muito difícil chegar a essas conclusões, mas é fascinante saber que alguém consegue expressá-las de forma tão eloqüente. É exatamente isso que Francesc Miralles faz durante todo o livro, utilizando as palavras mais... minúsculas. No fim, foi triste deixar Samuel ir.
2 Comentários:
Samuel é, então, um alter-ego de Miralles? É o que parece. É impressionante como os livros bom de se ler e que há um cumplicidade leitor-personagem faz com que nós sintamos pena a terminar, queiramos uma continuação. Parece ser um bom livro, eu gosto de quem sabe usar metáforas pra definir as coisas, falando como se fosse a coisa mais simples e cotidiana. Gostei da resenha! Bjo
Sinceramente, não sei onde termina Miralles e começa Samuel, mas acredito que as semelhanças não são tão grandes assim. Segundo um vídeo ao qual assisti, no qual o escritor fala sobre a obra, ele simplesmente aproveitou-se de alguns conhecimentos que já possuía previamente para compor o personagem e seus arredores mais facilmente (Samuel mora em Barcelona no mesmo bairro que Miralles, por exemplo), embora, creio eu, foi necessária uma pesquisa bem extensa para que Amor em minúscula fosse escrito, porque o livro é muito rico em vários aspectos.
Postar um comentário